Desde 2021, o torcedor do Santos FC tem sido obrigado a decorar mais nomes de treinadores do que escalações titulares. A cada novo comandante, renasce uma fagulha de esperança. Mas ela quase sempre é engolida por uma gestão esportiva errática, que insiste em repetir os mesmos erros — trocar técnicos sem critério, sem tempo e sem convicção.
No levantamento feito pelo Meu Peixão, os números não mentem: foram 12 técnicos em 4 anos, e apenas dois tiveram aproveitamento próximo ou superior à marca que separa o caos da estabilidade. O melhor desempenho foi de Fábio Carille, que em sua segunda passagem, em 2024, alcançou 61,5% de aproveitamento e tirou o clube da Série B.
Logo atrás vem Marcelo Fernandes, com 49,8%, o eterno “apagador de incêndio” da Vila. Sempre chamado para salvar o clube quando a bomba já estava estourada, Marcelo foi o técnico das emergências, dos milagres improváveis — e de vitórias gigantescas, como contra Flamengo e Palmeiras em 2023. Mas nem toda boa intenção apaga o trauma: seu nome também estará para sempre ligado ao rebaixamento histórico, mesmo sendo um dos poucos que realmente lutou para evitar a queda enquanto outros fugiam da responsabilidade.
🧮 Aproveitamento dos Técnicos do Santos FC (2021–2025)
Técnico | Jogos | Vitórias | Empates | Derrotas | Aproveitamento |
---|---|---|---|---|---|
Fábio Carille (2024) | 53 | 30 | 10 | 13 | 61,5% |
Marcelo Fernandes | 15 | 6 | 4 | 5 | 49,8% |
Fábio Carille (2021–22) | 27 | 9 | 10 | 8 | 46% |
Fernando Diniz | 31 | 11 | 8 | 12 | 44% |
Odair Hellmann | 34 | 11 | 12 | 11 | 44% |
Fabián Bustos | 30 | 8 | 12 | 10 | 44% |
Ariel Holan | 12 | 4 | 3 | 5 | 42% |
Pedro Caixinha (2025) | 17 | 5 | 5 | 7 | 39,2% |
Lisca | 8 | 2 | 3 | 3 | 37,5% |
Paulo Turra | 7 | 1 | 3 | 3 | 29% |
Diego Aguirre | 5 | 1 | 0 | 4 | 20% |
Mais que números: a falta de um norte
Se os dados já preocupam, a ausência de um padrão tático, de filosofia esportiva e de paciência com o trabalho técnico agravam ainda mais o cenário. O Santos segue contratando perfis opostos: de Diniz a Carille, de Holan a Caixinha, de Bustos a Lisca — como confiar num projeto se nem o clube sabe o que quer?
As demissões precoces são reflexo da ausência de um modelo de futebol. E quando o modelo inexiste, a crise vira rotina. Não à toa, 2023 culminou no primeiro rebaixamento da história do clube. Uma tragédia anunciada, cujos sintomas estavam visíveis nas estatísticas.
A reconstrução depende de convicção
Enquanto o discurso da diretoria segue vago e o planejamento esportivo patina, o torcedor, cada vez mais descrente, busca abrigo no passado glorioso para suportar o presente nebuloso. A esperança agora recai sobre a prometida “nova era Neymar”, mas sem um técnico à altura, sem comando estável e sem um projeto esportivo minimamente coerente, até o maior dos ídolos corre risco de naufragar no caos santista.
Se o Santos quiser voltar a ser temido, precisa parar de ser refém de apostas e escolhas inconsistentes. E, acima de tudo, entender que treinador não é solução mágica — é parte de um processo. Processo esse que, no Peixe, parece ter sido esquecido no fundo da Vila.
