Logo após a vinheta clássica, com uma trilha melancólica e imagens desbotadas da Vila Belmiro em seus dias de glória, começa mais um capítulo da novela alvinegra que insiste em se repetir: Vale a Pena Sofrer de Novo.
A cena se abre no gabinete presidencial, onde decisões importantes deveriam ser tomadas com base em relatórios, análises e projeções. Mas ali, como todo bom folhetim, reina a intriga, o jogo de vaidades e os conselhos de personagens que só aparecem quando a câmera liga.
Os especialistas de verdade? Esses seguem como figurantes. Falam, alertam, planejam — mas são sempre atropelados pelo núcleo político da trama. Um grupo caricato, desses que entram em cena apenas para complicar a vida do protagonista, ou no caso, do treinador da vez.
Em vez de reforçar o elenco com critério, a direção da novela optou pelo drama fácil: reviver personagens antigos, apostar em soluções caseiras e ignorar as entrelinhas do roteiro escrito por quem realmente estuda o jogo.
Quando o enredo pede ação, entregam burocracia. Quando o momento exige mudança, entregam discursos com eco. E quando o time clama por equilíbrio, reforçam apenas a convicção cega de que “dessa vez vai”.
Mas não vai.
Porque como toda boa reprise, o final é conhecido: um time desorganizado, um técnico sacrificado, promessas feitas no capítulo anterior que jamais se cumprem, e o torcedor… ah, o torcedor! Esse segue fiel, mesmo sabendo que está preso numa narrativa onde os erros se renovam, mas os responsáveis são sempre os mesmos.
E quando alguém sugere um novo técnico ou um novo rumo, o núcleo político reaparece — maquiado, sorridente e cheio de certezas que só cabem no papel de vilão simpático.
A pergunta que fica é: até quando vamos aceitar ver essa mesma história, com os mesmos erros, sendo exibida em horário nobre como se fosse novidade?
Porque no fim, quando a novela termina e as luzes se apagam, não é o diretor, nem o ator coadjuvante que ficam no escuro.
É o torcedor.
