O Santos Futebol Clube mais uma vez decide escrever sua própria história — ainda que, desta vez, mais por necessidade do que por convicção. Com a chegada de Cléber Xavier como técnico, Matheus Bachi como auxiliar e Fábio Mahseredjian na preparação física, o clube aposta em uma formação que mescla entrosamento, estudo e experiência internacional.
Diferente do que muitos pensam, o Santos não está inovando ao transformar um auxiliar técnico em treinador principal. Esse caminho já foi trilhado por nomes como Jair Ventura, Zé Ricardo, Odair Hellmann, entre outros, que buscaram dar o salto de auxiliar para técnico.
A novidade aqui é outra: nunca antes o futebol brasileiro apostou em um auxiliar com tamanha bagagem, tanta experiência e já com mais de 60 anos.
Cléber Xavier: Uma longa estrada antes do primeiro passo
Gaúcho de Alegrete, Cléber Xavier iniciou a carreira no futebol de base — exatamente onde tantos treinadores brasileiros começam. Depois, trilhou um caminho de respeito como auxiliar, trabalhando com Tite por 24 anos — no Grêmio, Palmeiras, Corinthians, Internacional, Seleção Brasileira e Flamengo.
Estava em campo nas maiores conquistas recentes de clubes brasileiros e esteve presente em duas Copas do Mundo com a Seleção. Se nunca havia sentado na principal cadeira, foi testemunha — e muitas vezes arquiteto silencioso — dos grandes momentos do futebol nacional nas últimas décadas.
Agora, aos 61 anos, Cléber enfim assume um time profissional como treinador principal. Uma estreia que traz 24 anos de elite embutidos em cada decisão.
Uma aposta em experiência — não em juventude
Diferente de outros casos recentes, onde clubes apostaram em ex-auxiliares jovens como Jair Ventura ou Thiago Larghi, o Santos arrisca em experiência madura.
Não é um salto no escuro. É uma tentativa de converter anos de know-how tático, análise de desempenho e gestão de grupo em comando prático.
Claro: liderança no vestiário, relacionamento direto com elenco, tomada de decisões sob pressão — essas são habilidades que Cléber precisará provar que domina no calor da Série A.
Mas poucos estreantes chegam tão preparados — mesmo sem nunca terem sido técnicos principais antes.
A comissão como alicerce
Ao lado de Cléber, estarão Matheus Bachi — especialista em organização defensiva — e Fábio Mahseredjian — um dos mais respeitados preparadores físicos do país. O trio trabalhou junto no mais alto nível e fala a mesma língua. Essa sinergia pode ser o suporte necessário para dar tempo a Cléber se adaptar ao novo papel.
Além disso, o contrato assinado com o Santos é curto e flexível, válido até o fim de 2025, permitindo uma avaliação sem amarras excessivas — o que também demonstra que o clube aposta, mas com pés no chão.
Conclusão: Necessidade, coragem e a chance de surpreender
O Santos não inovou ao apostar num auxiliar. Mas ousou ao dar a primeira oportunidade a um dos auxiliares mais experientes e vencedores do futebol brasileiro, mesmo aos 61 anos.
Se Cléber Xavier conseguir transformar sua bagagem em liderança prática, o Santos poderá ter feito uma escolha acertada — ainda que forçada pelas circunstâncias.
Sem alternativas mais seguras no mercado, o clube apostou na experiência de quem conhece o futebol de elite, mesmo sem nunca ter comandado. Agora, resta ao Santos torcer para que a necessidade improvise um novo acerto.
