A estreia como técnico principal pode assustar. Ainda mais se for em um clube gigante, com elenco em formação, torcida inquieta e calendário cruel. Mas Cléber Xavier , em sua primeira coletiva como treinador do Santos, mostrou que encara o desafio com os dois pés no chão — e o coração cheio de propósito.
⚽ Temporada jogo a jogo, mas com ambição
Recém-chegado ao clube, Cléber tratou de alinhar expectativas com o torcedor: o mercado de meio do ano pode ajudar, mas o foco imediato é fazer render o que já está à disposição.
“Chego com elenco montado. Conto com todos que estão no clube. Já vivemos muito isso, de pegar atleta desacreditado, com algum problema, e trazer para uma situação positiva. Liderança de convencimento, com boa gestão”.
O técnico revelou que conversas por reforços poderão acontecer, mas só após uma análise mais profunda da equipe atual e da resposta em campo:
“Depois podemos conversar com a diretoria sobre busca de um, dois ou três. Muitos atletas têm outra proposta, temos que trabalhar com calma, paciência. A realidade é agora. O mundo real é a estreia na Copa do Brasil.”
E mesmo pisando com cautela, Cléber lembrou que o Santos já sabe o que é levantar uma Copa do Brasil — e que o torcedor pode, sim, sonhar:
“É um campeonato que conquistou há 15 anos. Vamos trabalhar para isso. A partir da sexta rodada, pensamos em sair dessa situação no Brasileirão.”
🔁 Pressão? Sim. Mas também gratidão. E origem.
Indagado sobre a rotatividade de treinadores no Santos, Cléber não quis saber de estatísticas do passado. Preferiu olhar para frente:
“Sou muito positivo. Não pensei nisso. Penso para frente, isso me leva a acreditar. Caiu a ficha no banho. Meu primeiro trabalho como técnico é numa grande equipe. Já estive em grandes clubes e na seleção, mas agora sou o primeiro treinador. No Santos. Do maior jogador da história. Tenho que pensar nisso, não no que passou.”
Em tom bem-humorado e nostálgico, Cléber relembrou suas origens no Santos de Alegrete , o famoso “Leão da Várzea”, onde começou sua caminhada no futebol:
“Voltei para a emoção dos 14 ou 15 anos. Leão da Várzea, grande campeão, com grandes jogadores. Bibico, um dos maiores volantes, jogada nível Clodoaldo para se ter uma ideia.”
🧡 Pessoas em primeiro lugar: a filosofia além do campo
Mais do que tática, Cléber deixou transparecer uma visão humana de clube , inspirada nos anos ao lado de Tite. Ele quer mais do que resultados: quer relações reais com todos que fazem o Santos existir .
“Tite tinha uma mania e vou levar comigo: quando estávamos no melhor momento, ele chamava todos — até quem cuidava do campo — e dizia: ‘desce um pouquinho’. Quando a fase era ruim, a gente trazia as pessoas para cima. Não é só pensar nos grandes, mas nos funcionários, quem trabalha na cozinha, no departamento médico. Ontem eram 50 nomes da parte mais próxima, quero chamar todos pelo nome, dar um carinho.”
E completou, com uma fala que pode se tornar mantra de sua passagem:
“Que eu feche esse ano ao lado deles com alguma conquista. Que eu fique mais tempo no Santos. E para isso, vou precisar da torcida.”
👥 O torcedor como centro de tudo
Ao final da coletiva, Cléber resumiu com simplicidade o que move o futebol — e por que ele aceitou esse desafio:
“O futebol é ainda e sempre vai ser do jogador e do torcedor. Todo mundo que está aqui vive e gosta do futebol. A maior importância é o torcedor e o jogador.”
Com coração no passado e olhar no futuro, Cléber Xavier começa seu primeiro trabalho como treinador principal com um discurso firme, empático e, acima de tudo, identificado com o DNA do Santos: apostar em gente. Seja da base, da arquibancada ou da cozinha.
