O treinador Cuca finalizou o seu ciclo no Santos Futebol Clube. No seu saldo, um vice de Libertadores, uma classificação para a (pré) Liberta de 2021 e uma eliminação nas quartas de final da Copa do Brasil para o Ceará. Ele sai, aparentemente sem muita comoção do torcedor, que parece satisfeito em ver Ariel Holan como sucessor. A saída de Cuca, polêmica, por seus motivos não tão claros, se difere da também polêmica saída de Jorge Sampaoli, que deixou a torcida muito triste de ver o treinador que havia feito grande campanha no Campeonato Brasileiro de 2019 ir embora da Vila. Isso significa que o argentino fez um trabalho infinitamente melhor do que o brasileiro no comando do Peixe? Vamos analisar.
Jorge Sampaoli trouxe um estilo. Um estilo claro e que caiu nas graças do torcedor logo de cara. O Santos jogava de forma ofensiva, buscava o gol a todo momento, tinha “amor pelo balón” e as vezes até pagava por tamanha ofensividade, perdendo jogos de goleada ou deixando jogos que pareciam vencidos escapar (tava 3 a 0…). Mas o fato é que, diferentemente de Cuca, que saiu do Santos sem deixar uma marca clara de jogo, Sampaoli defendeu a ofensividade a todo o momento, como ele mesmo disse, após derrota por 4 a 0 para o Ituano: “O trabalho continua da mesma forma. Em todos os jogos o Santos teve o controle e assim deve ser. Sigo confiando nesse grupo e trabalhando a nossa ideia”.
Essa ideia proporcionou uma grande campanha no Brasileirão, tendo sido líder por algumas rodadas, brigando pelo título até determinado momento e também rendeu grandes jogos, incluindo um verdadeiro massacre contra o todo poderoso Flamengo de Jorge Jesus (que foi, por sinal, a despedida de Sampaoli do Santos… e que despedida!). Mas nem tudo são flores. Não podemos esquecer que o argentino sequer chegou à final do Paulistão. Sampaoli foi, assim como Cuca, eliminado nas quartas da Copa do Brasil e caiu na primeira rodada da Copa Sul-Americana para o irrelevante River do Uruguai.
Além disso, temos de levar em consideração que o argentino teve um ano para treinar o time e implementar suas ideias. Pegou o “trem parado” e pode tocar do jeito que quis, enquanto Cuca teve sete meses de trabalho, pegou o trem em movimento, desgovernado e pegando fogo, com alguns dos seus passageiros abandonando os vagões – Everson e Sasha, por exemplo.
Sampaoli teve, além de um elenco mais qualificado, reforços, teve orçamento (o Santos comprou mas não pagou a maioria das contratações). Cuca teve um elenco enfraquecido em relação ao ano anterior (perdeu Everson, G. Henrique, Ferraz, Jorge e Sasha, só pra citar os que eram utilizados no time titular), e um elenco que não recebia salários. Além disso, perdeu Carlos Sánchez (por lesão) no meio do seu trabalho e teve como reforço… Laércio, e a impossibilidade de fazer outras contratações por conta do transfer ban da FIFA.
Pode se argumentar que João Paulo e John são melhores do que Everson, que Luan Peres é melhor que G. Henrique e que nisso o Cuca acabou sendo privilegiado, mas a verdade é que todos esses jogadores estavam a disposição do treinador argentino (assim como Sandry, Kaio Jorge e Ivonei) e ele não os escalava por opção, então o Sampaoli teve mais elenco.
Ainda temos de lembrar que Cuca teve de encarar as duas grandes competições do ano (Brasileirão e Libertadores) de forma simultânea e, por conta do elenco reduzido, teve que priorizar a competição continental. Isso deve ser levado em consideração para justificar a oitava colocação no campeonato nacional. Sampaoli, depois de ser eliminado da Copa do Brasil, em junho de 2019, só teve o Brasileirão para se preocupar, fez ótima campanha, tendo feito mais pontos do que o Flamengo que venceu o campeonato na última temporada (o Santos fez 74 pontos em 2019, enquanto o Flamengo ganhou a edição de 2020 com 71 pontos).
Cuca, apesar de não ter demonstrado ideias táticas tão boas quanto as do argentino, fez, em determinados momentos, o time jogar tão bem quanto em 2019 – como nos inesquecíveis jogos da Libertadores contra o Grêmio e Boca Juniors, na Vila Belmiro. Mas esses jogos, com o time jogando de maneira quase que impecável táticamente e letal no ataque não foram regra e sim exceções na trajetória do treinador brasileiro. Ele não implementou um estilo, não trouxe uma ideia, apesar de ter apagado o incêndio e levado o time a fazer a campanha mais memorável do Santos desde a Libertadores de 2011.
Em resumo, Sampaoli deixou um legado em termos técnicos, em termos de inovação e mentalidade futebolística e uma campanha incrível no Brasileirão. Cuca teve uma missão mais difícil, menos tempo e recursos para cumpri-la e entregou uma campanha que guarda os momentos mais inesquecíveis do Santos nos últimos anos. Sampaoli se mostrou mais estudioso, mas Cuca, no geral, fez mais… com menos, em termos de resultado, principalmente quando se leva em consideração o contexto no qual cada treinador pegou e treinou a equipe.
Nelcides Loredo
5 de março de 2021 at 12:03
Cada um foi importante ao Peixão enquanto estiveram no comando, agora o foco é dar apoio a Holan.Peixao sempre.
Mário
4 de março de 2021 at 20:17
Assino embaixo.