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Autocrítica – O dia que o presidente do Santos desmontou minha coluna

O texto dessa coluna se divide em duas partes, a primeira foi escrita domingo à noite, certo de que era necessário se posicionar acerca de alguns erros da direção, e o outra parte nada mais é que uma errata, após sua live de balanço dos 100 primeiros dias de administração. E assim como o presidente Andres Rueda assumiu o seu erro, nada mais justo que eu assumir que ele fez o que eu queria, antes mesmo de eu pedir.

Confesso que desde que saiu a notícia sobre o “esquecimento” da inscrição do lateral Madson no Campeonato Paulista, eu tenho pensado e relutado sobre escrever algo sobre o tema. Confesso que embora eu não tenha votado e apoiado o atual presidente Rueda, não compartilho o desejo de alguns de vê-lo fracassar à frente do clube que amo, e principalmente procuro racionalidade e equilíbrio dentro das minhas críticas para ser justo com o homem.

Afinal, todos nós respiramos aliviados com os salários em dia, sorrimos com o patrocínio máster, nos surpreendemos com a redução da folha salarial para que o clube consiga ter uma máquina azeitada, e conseguimos ver que dentro da gestão, inclusive na pessoa do presidente Andres Rueda, temos pessoas capacitadas que possuem conhecimento na área de gestão financeira para nos trazer melhores dias e evitar que o Santos volte a ser sinônimo de crimes contra o erário, calotes e má gestão.

Na via esportiva aplaudimos a contratação de Ariel Holan, que aparentemente manja do riscado e foi contratado sabedor da situação financeira, entendendo nosso planejamento forçado da melhor utilização das categorias de base. Porém, o esforço brutal para diminuição de gastos em busca de austeridade financeira, reduz bruscamente a margem de erro que qualquer gestão de um clube em busca de competitividade esportiva nos dias de hoje possa ter ao tentar ser vitoriosa. E quando falo sobre isso, falo sabedor de que provavelmente a diretoria mire real competitividade no cenário nacional no seu último ano de gestão, quando grande parte das dívidas forem equacionadas.

Todavia, é necessário lembrar que o meio esportivo é a razão de nossa existência, e principalmente, grande parte dos problemas financeiros podem ter um grande respiro com premiações e venda de jogadores. Por isso, no parágrafo passado mencionei que, uma vez trabalhando com o perímetro financeiro reduzido, não há margem para erros que possam prejudicar a pouca gordura que temos.

Primeiramente, vimos uma odisseia na liberação de Soteldo, que durou praticamente duas semanas, e impossibilitou a utilização do jogador de maior salário no time atual de atuar como titular que é no confronto contra o San Lorenzo da Argentina. Ora, com os casos de coronavírus em alta desde janeiro deste ano, não precisava ser muito esperto para prever que algo do tipo ocorreria se algum jogador se desgarrasse do elenco, e que os recursos destinados ao pagamento mensal do atleta não fossem desperdiçados na hora que o time precisasse dele. Em seguida vimos um erro que chega a ser grotesco e amador, como já vimos anteriormente com a desclassificação em 2018 na Libertadores da América no caso Sanchez. Madson, lateral direito, que na minha opinião disputa titularidade neste elenco, foi esquecido na hora de ser inscrito no Campeonato Paulista na lista A, que consta os veteranos, e não poderá ser inscrito na lista B, porque não é proveniente das categorias de base do clube.

Ora, dentro do profissionalismo exigido no futebol, e em um clube da magnitude do Santos, em uma lista que deve ter sido escrutinada N vezes por mais de um departamento dentro do clube, é inaceitável que tal erro ocorra. É inadmissível dentro de um clube que junta as moedas para pagar as contas, deixar de contar com um profissional que possui uma remuneração investida consideravelmente alta, por conta de um, ou vários erros dentro da gestão. São erros como esse, que podem pôr tudo a perder lá na frente e fazer o clube deixar de lucrar no campeonato, e em consequência, desvalorizando atletas que podem ser vendidos, impedindo que o carro chefe da gestão atual, que é a saúde financeira do clube, não saia nem do estacionamento. Como minha esposa, na plenitude da sua sabedoria, diz algo que de algum jeito deve fazer sentido: “nessas horas o molho fica mais caro que o macarrão. ”

Confesso que respirei aliviado quando soube que não houve lesão no caso de Vinicius Balieiro, volante destaque oriundo das categorias de base, que jogou improvisado na lateral direita, posição de Madson e saiu machucado do gramado neste último sábado. É o tal “Efeito Borboleta”, lembram?

Embora durante a campanha eleitoral, em um debate, o presidente afirmou que não entendia de futebol, é necessário que ele se cerque de pessoas competentes e conscientes que não podem errar, pois ser competitivo com transferban de 1 ano (já deu né?!), vendendo atletas importantes, e utilizando apenas garotos inexperientes como reforços, nos traz a importância de minimizar qualquer possibilidade de falhas extracampo.

Convenhamos, independente do seu voto ou apoio a qualquer um dos 6 candidatos a cadeira presidencial no Santos, sabíamos que era um enorme “rabo de foguete”, uma vez que o clube foi destruído financeiramente nos últimos 10 anos, e que seria impossível uma saída para todos os problemas sem cortar na carne e ficar exposto ao cometimento de erros. Afinal, o tic tac da bomba está soando, e dentro desta pressão enorme, a grande dicotomia entre finanças e competitividade faz com que qualquer homem acabe tomando uma ou outra decisão errada. Tudo bem errar, mas agora, cabe ao presidente a reflexão e a serenidade para fazer o necessário para o responsável direto pelo erro, não tenha outra oportunidade de errar. Porque se isso ocorrer, o erro agora será de quem o manteve.

Certo, neste momento, tinha encaminhado meu texto para o editor do site, e esperava o momento da publicação. Graças a Deus, esse momento não veio no horário que costuma acontecer e chegou a Live do Presida. Meu Deus… na área financeira, não preciso nem falar, o cara falou com tanta propriedade e transparência, que lágrimas escorreram pelo meu rosto quando ele disse que os 15 milhões de euros que devemos à Doyen, se tornaram 6, pois ganhamos em segunda instância na justiça, o pedido que aponta que a cláusula de inadimplência seria extremamente abusiva e, portanto, podemos agora economizar em uma tacada só, um problema de aproximadamente 60 milhões de reais.

E diferentemente de gestores anteriores que se esconderam atrás de supostos estagiários perante os erros de inscrição que prejudicaram o clube, Rueda disse acerca de Madson: “Quem foi responsável, quem errou fui eu. Na verdade, quem é o responsável por tudo de bom e tudo de errado é o presidente. Eu cometi esse erro, coloco nas costas. Por que aconteceu? Lá atrás, quando aconteceu uma coisa não tão simples, muito mais grave, que a gente perdeu por causa do Sánchez. Qual a solução? Mandar estagiário embora. Mandaram e nunca mais viram o processo para ver o que aconteceu. Erramos? Ótimo, pode acontecer. Mas é exigência da gestão, é ver para que nunca mais aconteça. Precisa ter a checagem. O responsável é o presidente”.

Postura de liderança que esperamos ser a tônica de todo este triênio. Transparência e autocrítica. Confesso que todo o santista nos últimos anos teve uma síndrome de cachorro maltratado, que apanhou tanto que na hora do carinho, sai correndo com medo. Tenho certeza que como associado, cujo dever é de fiscalizar o executivo santista, faz parte da minha vontade ser equilibrado e me forçar sempre a olhar com desconfiança tudo o que cerca as decisões dentro do clube. Mas apenas hoje, eu larguei um pouco do ceticismo, apostando que talvez, apenas talvez, tudo possa caminhar para melhor dentro do meu amado Santos Futebol Clube. Amanhã, peço para o corneta dentro de mim voltar. Afinal, sou livre o suficiente para não ter gestor de estimação.

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Peixão.

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