Futebol Masculino

O “bicho” no Santos

Série sobre o bicheiro Castor de Andrade, famoso por pagar "bicho" ao Bangu Atlético Clube

Nesta semana, ventilou-se a notícia que a gestão de Andres Rueda, que já havia resolvido todos os atrasos salariais com o elenco santista, teria quitado os direitos de imagem atrasados e pagado 50% do bicho, ou premiação, pela vitória contra o Boca Juniors e consequentemente a ida à final da Libertadores.

Mas ainda há débito com o elenco os outros 50% dessa premiação e os bichos dos seguintes jogos que culminaram em vitória: Grêmio, Corinthians, São Paulo e Coritiba pelo Campeonato Brasileiro, Deportivo Lara pela Pré-Libertadores, Ituano pelo Paulista, além da classificação para a Pré-Libertadores no empate contra o Fluminense.

Poderíamos gastar nosso tempo discorrendo sobre a natureza jurídica do bicho no direito trabalhista, se essa quantia é ou não verba salarial, mas com certeza não é esse o meu objetivo, e sim mensurar e refletir sobre a relação profissão/salario/resultados/motivação.

Para isso, devemos realizar a dicotomia entre o Santos de 2020 e os atletas de 2020 e não apenas defender o ponto de vista clubista de um torcedor contribuinte. É fato que o clube, enquanto empregador, não cumpriu com o seu papel, pois não honrou seus compromissos com seus empregados, atrasou vencimentos e deixou muitas vezes os jogadores completamente no escuro e sem perspectiva de quando haveria de ser quitado esse débito.

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Talvez a única forma de motivar os jogadores seria a promessa de pagamento de bichos e premiações, tornando assim a dívida uma verdadeira poupança em que o atleta teria a certeza que uma hora o dinheiro viria, e em maior quantidade.

Por outro lado, é assustador imaginar que em um clube com os salários em dia (graças a Deus, nossa situação atual), um atleta que recebe 300, 400 mil reais, precise de premiações e bichos para ganhar do Ituano, para classificar à Pré-Libertadores em oitavo lugar, para passar do tradicionalíssimo Deportivo Lara e etc. Me faz pensar que toda essa quantia de dinheiro é dada ao atleta para treinar, perder e empatar, pois se quisermos vitórias, ai custa uns mil a mais… Bizarro.

Imagine um médico com a necessidade de precisar de um extra para curar pacientes, um juiz com a obrigação de ganhar um dinheiro a mais por cada sentença não revista, ou um coletor de lixo com o ônus de receber grana por sacola recolhida e caso não tiver um extra, vai pegar só metade do lixo.

Como eu disse, isso é cultural. Não será retirado, não será alterado. Não sou totalmente contra, pois acho justo premiação por títulos, por resultados que excedem o planejamento inicial da temporada. Mas acho inadmissível um atleta que, num país rico, mas tão cheio de desigualdade, pertença à elite financeira fazendo o que ama, em um time gigante e de tanta história, precise de bicho pra se motivar e ganhar de Coritiba, Ituano e Deportivo Lara.

Mesmo porque, essa é uma via de mão única. Se a motivação em campo é medida por bicho, a falta dela não gera ônus nenhum para o atleta financeiramente, afinal, se gerasse, alguns atletas teriam que indenizar o clube pelo o ocorrido do dia 30 de janeiro.

Sei que se esse texto pode chegar até algum atleta do clube, e sendo ele beneficiado por essas situações, com certeza ele não irá concordar comigo nessa análise. Vivemos em uma democracia e isso é o direito dele. Mas como eu respeitosamente disse, tudo nesse texto não é para cravar a minha opinião acerca dessa prática utilizada em jogos em que é obrigação a vitória como resultado, e sim levar o associado, torcedor, diretor, gestor e até mesmo os atletas que, embora as obrigações salariais tenham sido falhas por parte da ultima gestão e tem sido paulatinamente cumpridas pela atual, é bizarro imaginar que os felpudos salários pagos em tempo de estádios vazios só compram derrotas e empates, não importa o adversário.

2 Comments

Comentário(s)

  1. Alexandro

    3 de abril de 2021 at 12:50

    Concordo plenamente

  2. Mario Basilio

    3 de abril de 2021 at 11:22

    Muito boa a sua associação de contratação Standard à obrigacão apenas de resultados rasos.
    Minha observação de acréscimo à sua análise vai para o grupo todo, que em sua maioria (25/40) não tem altos salários e nem a possibilidade de lutar com igualdade de talento e experiência com os adversários que enfrentaram ao longo de 2020. O “bixo” serviu para turbinar a vontade de todos além da sua possível e esperada entrega. Aconteceu como resultado o ganho extra para quem não precisaria disso (15/40) em detrimento dos 25 alvos que precisavam de uma cenoura para correr mais.

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