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#TBT: Formiga nas Sereias e a importância do acervo histórico para o futebol feminino

Crédito: Reprodução/ Instagram Oficial Sereias da Vila

As Sereias da Vila divulgaram uma foto da jogadora Formiga nesta quinta-feira feira (20) em suas redes sociais. Na imagem, a atleta que hoje atua no Paris Saint-Germain, aparece com uma camisa do Santos patrocinada pela Alphaclub, ao lado do técnico Kleiton Lima e Valéria Bonifácio, jogadora da Seleção Brasileira no Mundial da Suécia em 1995.

Maior recordista em participações de Copas do Mundo, com sete no total, Formiga se manifestou na publicação, dizendo não se recordar a data exata, apenas se lembra que o registro foi feito durante a disputa de Jogos Abertos ou Regionais.

Historiadores relatam a dificuldade de encontrar dados sobre o futebol de mulheres no país.

Édson de Lima é pesquisador da modalidade. Responsável pela Vitrine do Futebol Feminino, ele observa que o trabalho de resgate do esporte é um quebra-cabeça onde muitas vezes ficará faltando algumas peças, pois muitos acontecimentos nunca foram registrados.

Para Edson é necessário que os próprios clubes resgatem sua história, para que o acervo do futebol seja contemplado com momentos em que as mulheres vestiram as camisas dos times brasileiros. Ele avalia como vital a memória esportiva.

“A história é fundamental, mas parece renegada a segundo plano. As próprias entidades como CBF e Federações só fazem esse trabalho em momentos específicos como Olimpíadas e Mundiais”, fala Edson ao Meu Peixão.

O pesquisador lembra que o Peixe tem ligação direta com o esporte de mulheres no país há mais de 40 anos, e que assim como Formiga, Marta e Cristiane, muitas pioneiras vestiram o manto do glorioso alvinegro praiano.

“Sabemos que o Santos teve participação desde os anos 1980 no futebol feminino, inclusive a primeira goleira da Seleção Brasileira, Simone Sueli Carneiro jogou no clube. Era um Santos incipiente, não continuo, mas é história”, completa Edson.

Gabriel Santana já trabalhou no Centro de Memórias do Santos ao lado de Guilherme Guarche, e hoje atua na área de comunicação do clube.

Responsável por resgatar momentos importantes para o time da baixada, ele conta que a própria foto da Formiga com a camisa do time é um mistério a ser desvendado, pois não há muitos dados sobre esse período.

“Em meados de 2017, comecei a reunir todo o material que tinha no clube sobre o futebol feminino e montei uma planilha de jogos. Por meio de súmulas encontradas no Santos, e pesquisas realizadas na FPF e CBF, montei a tabela para ter um controle. Iniciei com os campeonatos oficiais, e hoje já tenho até alguns amistosos registrados. Foi por essa organização que descobri o número de gols das atletas, e a contagem centenária da Ketlen”, explica.

Chegar a números importantes como o centésimo gol da camisa sete é ajudar a escrever diretamente a história do esporte e da trajetória individual das mulheres que movem o futebol no país.

Pode-se se dizer que Gabriel está diretamente ligado à homenagem que o Santos, fez ao colocar Ketlen na seleta lista dos atletas eternizados no muro do CT Rei Pelé.

“O futebol feminino está evoluindo a cada ano que passa, e os registros, principalmente históricos, vão engrandecer e valorizar ainda mais a modalidade”, diz o profissional.

Registros midiáticos são grandes aliados de pesquisadores, mas no caso do futebol de mulheres, não é de hoje que a mídia deixa a desejar, quando o assunto é esporte feminino.

“A maior dificuldade é que as informações não são encontradas nos jornais de antigamente. Não havia uma grande cobertura sobre a modalidade. Consegui muito material por meio de revistas internas do Santos, e com um amigo historiador, o Walmir. Ele anotava todas as fichas que o site do Santos postava, desde o começo da era da internet, e cedeu seu material para nossa ajudar”, finaliza Gabriel.

Responsável por ajudar a implementar o Centro de Referência do Futebol Brasileiro, além de fazer curadorias de exposições sobre mulheres no esporte como o Contra-Ataque, dentro do Museu Futebol, a pesquisadora Aira Bonfim estuda o esporte sob a perspectiva feminina.

“O desconhecimento da história sobre as brasileiras, inclusive daquelas que jogaram bola, justificou por muitos anos a negligência sobre a modalidade feminina de futebol no Brasil. Mal sabiam eles (entidades e clubes de futebol) que essa história tem tradição e mais de 100 anos de histórias. A cada foto, depoimento e registro que encontramos, juntamos as peças de um quebra-cabeças que transformam mulheres em protagonistas da verdadeira história do futebol brasileiro. ” reflete Aira, curadora do audioguia Mulheres do Futebol, lançado recentemente pelo Museu do Futebol.

Após o fechamento da matéria, Edson conseguiu contato com o técnico Kleiton Lima e o treinador falou sobre a passagem de Formiga pelo time das Sereias da Vila.

“Ela jogou em 2002 durante uns três meses, em alguns campeonatos que disputamos, incluindo um torneio intercambiado com o time norte-americano, o Chalotte Eagles, que jogou aqui no Brasil e ela esteve presente pelo lado do Santos. Também disputou uma competição em Águas de Lindoia nesse mesmo período, e se não me engano isso tudo foi de 2002 para 2003. Foi campeã dos Jogos Abertos do Interior, assim como a Valéria e a Simone Jatobá, jogadoras que vestiram a camisa do Santos por uns três meses, e disputaram uns quatro torneios pelo clube”, recordou Kleiton.

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