A Vila Belmiro é o lugar que me traz as melhores memórias que tive ao lado do meu pai. Ali dividimos histórias e somamos amor ao Santos.
Sou um “menino da fila”. Vivi e cresci nos anos 80. Época difícil, de vacas magras, onde peguei uma casca para aguentar provocações adversárias e times medonhos, sempre cultivando junto ao meu pai o amor incondicional ao Santos.
Nada disso tirou a minha paixão por assistir aos jogos na Vila. A memória afetiva sempre foi maior que qualquer derrota e assim que me tornei pai, o meu sonho sempre foi levar meus filhos à Vila para assistir a um jogo junto com o meu pai.
Infelizmente as coisas não saíram como eu sonhei e o meu pai, por conta de diversos problemas de saúde, ficou impossibilitado de ir ao estádio. Lembro do seu último jogo, junto comigo e meu tio em 2011, antes do Santos embarcar para a final do Mundial de Clubes no Japão.
Depois disso, comecei a frequentar o estádio junto do meu filho.
Pouco tempo antes da pandemia começar prometi ao meu pai que o levaria, do jeito que fosse possível, a um jogo do Santos junto comigo e o meu filho quando as coisas “voltassem ao normal”. Eu devia isso a ele, por ter nutrido em nós esse amor ao clube. Mas, infelizmente, eu não pude cumprir essa promessa. Meu pai acabou sendo uma das vítimas da pandemia e o sonho de reunir as três gerações na Vila acabou ali.
Esses quase dois anos que passamos afastados da nossa casa me fez refletir em como eu poderia tentar compensar a promessa que eu não cumpri ao meu pai assim que voltasse à Vila. Foi assim que fiz questão de ir com uma camisa que dei a ele quando ele completou setenta anos em 2013.
Sonhei em um jogo festivo, onde gritaria gol abraçando o meu filho com a lembrança de estar abraçando o meu pai como abracei em tantos jogos ao longo da minha vida. Mas infelizmente, novamente, nada saiu como eu imaginei. Voltamos à Vila em uma derrota para o América onde nada deu certo.
Isso me fez refletir muito sobre o atual momento que estamos vivendo. Sobre tudo o que eu vivi ao longo desses mais de quarenta anos frequentando Urbano Caldeira.
O momento é grave. Talvez o pior vivido pelo Santos em sua história. A tristeza é muito grande. Porque ultimamente as derrotas têm acontecido em campo. As perdas têm acontecido na vida e muito dos sonhos vêm, dia após dia, se tornando pesadelos que parecem não ter fim.
Mas ontem, voltando para minha casa em São Paulo triste depois do jogo, o meu filho me deu um abraço e disse: “Pai, a gente não vai cair. E se a gente cair, não tem problema. Porque a gente vai continuar juntos assistindo ao Santos jogar”.
Em meio a todo o caos, e sem querer ser tomado por uma “Síndrome (fútil e desnecessária) de Poliana”, me senti bem em saber que o legado do meu pai havia sido preservado.
Seguimos em frente com a certeza de que no campo existem derrotas, mas também vitórias. Que na vida teremos perdas, mas também ganharemos presentes maravilhosos. E que os pesadelos não duram pra sempre. E o que fica de tudo isso são as melhores memórias. Aquelas que a gente sempre sonhou em viver. Tudo passa e essa má fase também vai passar.
A vitória não veio na nossa volta ao estádio, pai. Mas você teve lá com a gente durante todo o jogo. E sempre vai estar. Muito obrigado por tudo. E eu não vou te prometer que o Santos não vai cair. Não vou te prometer uma coisa que mais uma vez eu não possa cumprir. Mas pode ter certeza que a nossa parte a gente tá fazendo, do jeitinho que você sempre nos ensinou.
Robson
25 de outubro de 2021 at 18:06
Puta mano! Arrepiou este texto é chorei lendo! O amor pelo SANTOS é uma coisa e única que só nos sabemos explicar! Se Deus quiser, vamos sim sair mais fortes dessa situação!
Anderson carvalho silva
25 de outubro de 2021 at 16:35
Que Belô legado em meu irmão. Nunca foi e nunca será só um jogo.
Alexandro
25 de outubro de 2021 at 16:13
Nossa cara, vc me fez chorar
Marcola
25 de outubro de 2021 at 16:12
Cai!
Laurence Peters
25 de outubro de 2021 at 15:18
Parabéns meu Irmão
Débora Vaz
25 de outubro de 2021 at 15:14
Emocionante seu texto.
Amor que atravessa gerações, Santos Futebol Clube.