A torcedora do Santos, Sônia Catarino, de 72 anos, espalhou as cinzas da mãe Maria Nazaré Pinto Catarino no gramado da Vila Belmiro. A ideia surgiu do primo Sérgio Luis Pinto e foi levada à frente por Sônia, como forma de agradecimento pelo Alvinegro unir a família desde a década de 50.
Além da mãe, o pai de Sônia, Orlando Gomes Catarino também era santista e foi responsável por comprar uma televisão, em 1955, para a família e vizinhos assistirem aos jogos do Santos nos finais de semana. Tal acontecimento era um evento no bairro, pois rolavam apostas e discussões contra os rivais, mas no fim, tudo terminava em pizza.
“O melhor lugar que ela gostaria de ficar seria na Vila. Foi a vida de todo mundo lá. É uma família de santistas. Saía briga até na vizinhança naquela época. Foi um momento triste, porque é uma pena a minha mãe não estar sabendo onde está. Porém, ela ficaria feliz, ela só dizia ‘me joga em qualquer lugar’, mas nunca passaria na cabeça dela estar na Vila. Mas sei de onde ela quer que esteja, ela estará feliz, acompanhando bem de perto”, contou Sônia à reportagem do Meu Peixão.
“Ela está em uma das laterais da Vila. A gente brinca que ela está passando a rasteira nos adversários”, emendou a advogada aos risos.
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Mesmo sendo santista, Maria Nazaré nunca foi à Vila Belmiro pelos costumes do início do século passado. Segundo Sônia, a mãe aprendeu que “não era bonito mulher ir ao campo de futebol” e somente torcia em casa. Sônia até tentou convencê-la durante os anos, mas sem sucesso.
Os pensamentos entre mãe e filha eram distintos. Pelo Santos, Sônia comemorou a classificação à final da Libertadores de 2003 buzinando pelas avenidas da cidade no início da madrugada. Além disso, em uma outra ocasião, parou perto do ônibus do Corinthians e xingou os jogadores do rival com alguns amigos.
“Nunca quis ir na Vila. Nasceu em 1927, ela teve uma vida bem reprimida, não era bonito uma mulher ir ao campo de futebol. Eu fui algumas vezes e ela achava estranho a minha presença lá. Eu fui vice-presidente na OAB em Santos e pessoas achavam que não era legal. Tinham 40 homens em uma foto e somente eu de mulher. Eu brincava para gente ir à Vila, mas não queria ir. Ela gostava de gritar, mas não gostava de fazer isso publicamente”, falou.
De acordo com Sônia, o futebol brasileiro ainda possui uma “cultura de patriarcado”, mas acredita que os clubes e, principalmente, o Santos podem inserir as mulheres cada vez mais em estádios, conselhos e diretorias.
“Para inserir mais as mulheres em um clube, seria (importante) criar cota obrigatória de 30% de mulheres sócias nas chapas que concorreram às próximas eleições. Estamos em um país de terceiro mundo, infelizmente. É a cultura ainda de patriarcado em todos os campos. Acho que o Santos prioriza, mas pode vir a priorizar mais, depende do que a diretoria pensa. É bom abrir mais espaço para a mulher sentir mais segura nos estádios também”, opinou a advogada.
Em tempos de pandemia, em que os estádios não recebem público, a Vila Belmiro ganhou uma presença especial para incentivar o Santos e comemorar as próximas vitórias e títulos do clube.