Presidente Rueda,
Preciso vir a público me manifestar.
Faço isso pelo meu filho, que aos 10 anos de idade tem dificuldade em entender como o maior clube do mundo chegou a esse ponto.
Faço isso pela memória do meu pai, que não está mais aqui entre nós, mas é lembrado em todos os jogos quando nosso time entra em campo ou quando piso na Vila famosa, onde passei a minha infância ao seu lado.
Faço isso por mim, para que no futuro tenha paz de espírito, caso o pior aconteça.
E faço através de palavras. Prefiro elas às bombas, que só servem para destruir o que já está liquidado. Palavras têm poder e, se bem colocadas, servem como sementes à terra arrasada. Podem ser de alguma valia, apesar de que duvido, pois quando a vaidade impera as palavras perdem sua força.
Ninguém tem a ingenuidade de achar que o Santos navega em um mar de austeridade. Todos nós sabemos da situação financeira e de como foi difícil para o senhor assumir um clube depois de gestões horrorosas que tivemos. Mas nunca imaginamos que a sua gestão pudesse ser a pior dentre todas elas. Isso porque o foco do senhor, ao que parece, nunca esteve no futebol. E o Santos, antes de ser Clube, é Futebol. E “Futebol” com letra maiúscula, sim.
Porque foi pelo futebol que encantamos. Nos tornamos amados e reconhecidos. Revelamos grandes craques e um Rei. Fizemos súditos por todas os cantos do planeta, paramos guerras e nos tornamos sinônimo de excelência. Hoje, a cada jogo, parece que essa realidade fica cada vez mais distante.
Nos apequenamos e o senhor e a sua gestão têm grande responsabilidade sobre isso. O fundo do poço parece não ter fim. Brigamos contra rebaixamentos em torneios estaduais. Somos eliminados em competições continentais por times que até uns anos atrás vinham à Vila para tentar perder por um placar pequeno. Somos chacota na imprensa. E a cada declaração sua, viramos chacota também dos adversários.
Não é possível que a sua realidade esteja tão distante da minha e da dos milhões de torcedores do Santos ao redor do mundo. Não temos diplomas de administração, qualificações internacionais, mas temos a vivência de arquibancada. Estamos acompanhando todos os jogos dentro da nossa casa, ou viajando junto com o time. Sofremos a cada partida porque o que vemos em campo está longe de ser o Santos para o qual torcemos. Está anos-luz de ser o Santos que amamos.
Atletas sem comprometimento. Acostumados a brigar contra rebaixamentos. Rostos derrotados. Tristes. Que não combinam com a alegria que se deve ter ao vestir o nosso manto alvinegro. Que não fazem ideia do que é fazer uma “dancinha” depois de fazer um gol. Pulamos do encantamento para a desilusão. Chegamos a melancolia. E hoje vivemos um misto de angústia e desespero. Porque as atitudes tomadas pelo senhor vão, cada vez mais, de encontro a qualquer racionalidade e entendimento mínimo de quem respira Santos Futebol Clube.
A luz do fim do túnel parece se enfraquecer ao apito final do juíz a cada jogo. E eu, que disse no começo desta carta preferir as palavras, ainda não tenho uma que traduza o que venho sentindo hoje, ao assistir os jogos do nosso time. É muito mais do que tristeza.
Peço que o senhor, Andres, reflita. Ouça, mas não aqueles que dizem palavras de agrado, que dizem estar hoje ao seu lado. Que são pagos para “trabalhar” no Santos Futebol Clube. Estes serão os primeiros a te abandonar quando o barco afundar.
Ouça quem ama o Santos de verdade. Quem já viveu dias de glória e hoje tenta desesperadamente vencer uma luta ingrata contra convicções que nunca deram certo no futebol, mas ainda assim são aplicadas por senhores que só entendem de números e nunca chutaram uma bola.
Ah, e um último pedido. Não veja os torcedores como adversários, Andres. Não há ninguém no mundo que queira o melhor para o Santos do que nós, torcedores. Faremos de tudo para tirar o Santos Futebol Clube dessa situação. Mas para isso, precisamos que o seu comando esteja alinhado às nossas expectativas. Caso contrário, o senhor que sempre sonhou em entrar para a história do clube como o presidente que “salvou” o Santos, será lembrado para sempre como o presidente que conduziu o Santos ao lugar mais baixo de sua rica e centenária história.
Gustavo Kosha é publicitário, sócio remido e torcedor do Santos Futebol Clube
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Peixão
Juliana Bitthencourt
3 de julho de 2023 at 06:15
Li isso 6h da manhã chorando. Que Deus nos ajude e aconteça um milagre, não aguento mais sofrer.