Por Aldo Neto
O ano de 2004 foi marcante para o Santos. Começou a transição e a saída da Geração de 2002. A reformulação do time se deu durante o Brasileiro conquistado pelo Peixão cabeça a cabeça com o Athletico.
A virada final se deu no penúltimo jogo do campeonato contra o São Caetano. Vanderlei Luxemburgo assumiu o time após a saída de Emerson Leão e comandou a reconstrução do time com muito confronto interno. Um desses confrontos foi com o lateral-esquerdo Léo, naquela época já querido pela torcida que o elegeu inclusive para a Seleção dos 90 Anos do Santos antes mesmo do título de 2002.
Há uns 10 jogos do fim do campeonato, em um início da partida, com poucos minutos jogados, Léo sentiu uma dor na perna, uma fisgada e colocou a mão no local. Luxemburgo, que nunca se bicou com Léo na hora, e contra a vontade do lateral, o substituiu pelo seu reserva, Márcio Careca, que ninguém nunca mais ouviu falar.
A atitude do técnico revoltou Léo que o criticava abertamente e na frente de Luxemburgo se valendo do status de ídolo campeão brasileiro. A briga nos bastidores era conhecida a céu aberto no CT Rei Pelé, inclusive pela imprensa. Luxa nunca tirou Léo do time pois sabia que teria confusão com o presidente Marcelo Teixeira. Lembro que em um treino Luxa tirou Léo, Elano e André Luiz do time titular. Estava na Vila e toca meu Nextel. Do outro lado o repórter Ricardo Martins: “Você sabe o que tá acontecendo aqui? O treinador tirou Elano, Léo e André Luiz do time titular”. Eu agradeci a informação e a repassei ao presidente do clube que imediatamente que me disse que retornava depois. Cerca de 20 minutos depois Marcelo Teixeira me retorna e pede: “Veja com seus amiguinhos se o Elano e o Léo voltaram ao time titular”. E tinham voltado.
Motivador nato, Luxemburgo desde sua chegada ainda no início do Brasileirão dizia que o Santos ia ser campeão. A fala dele tinha a credibilidade de quem conquistou a tríplice coroa (Estadual, Copa do Brasil e Brasileirão) no Cruzeiro no ano anterior. Toda preleção ele repetia isso nos vestiários e hotéis pelo país.
Graças a Luxemburgo conseguimos começar a Santos TV com o advento do profissional Alexandre Ceolin no clube e a compra de equipamentos de TV, algo que pedíamos desde 2002 e nunca era possível. Competente estatístico e cinegrafista, Ceolin gravava todas as preleções de Luxemburgo. Esse trabalho foi fundamental e está registrado no livro “Profissão Campeão – Como o Santos ganhou o Brasileirão de 2004”, que Luxa escreveu com o jornalista Ingo Ostrovsky.
Na preleção da penúltima rodada, sob tensão da disputa ponto a ponto com o Athletico de Levir Culpi e a briga interna com Léo, Luxa inovou em sua preleção. Em certo momento disse: “Eu to falando pra vocês nós vamos ser campeões. Eu faço qualquer coisa pra ser campeão. Qualquer coisa. Dou até um beijo no Léo. Vem cá Léo”. Luxa beijou Léo o time relaxou deu bastante risada e foi a campo. Léo fez contra o São Caetano sua melhor partida no torneio após o beijo do Luxa e no fim o Santos foi campeão.
As imagens dessa cena, Luxa nunca permitiu serem divulgadas. Mas para quem assistiu, como eu, são indeléveis na memória.