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#TBT “Se não tivéssemos entrado, poderíamos ter morrido” disse Leão sobre a Batalha de Rosário

O #tbt de hoje é de uma época de vacas magras, de uma época em que renegávamos títulos e romantizávamos derrotas. Uma época em que a mídia fazia questão de fortalecer os rivais da capital, e tentava a todo o custo nos convencer a cada dia que nossas glórias estavam fadadas a ser um conto histórico, dentro de um jejum que ainda perduraria alguns anos. Nos chamávamos de “meninos da fila”, e ignorávamos a conquista do Rio-SP de 97, e no mesmo ano que quase alcançamos a final do campeonato Brasileiro novamente, prejudicados por uma expulsão injusta do Viola contra quem acabou ganhando aquele campeonato diga-se de passagem, mas isso é história pra outro dia, e como aquele bom time não poderia terminar o ano sem um título, chegamos à final da Copa Conmebol.

Foto: Gazeta Press

O rival na final do torneio sul-americano era o argentino Rosário Central, e o título seria decidido em jogos de ida e volta, sendo o primeiro na Vila Belmiro e a decisão no Estádio Gigante Arroytio, em Rosário, Argentina. Em um primeiro jogo truncadíssimo, dando amostras do que esperaria o Santos na Argentina, o Peixe ganhou de 1 a 0, com um gol de cabeça de Claudiomiro. A partida foi tão nervosa que houveram 6 expulsões, sendo 3 pra cada lado. As do Santos foram dos jogadores Viola e Jean, e também do técnico Emerson Leão.

Mas a batalha final ainda estava por vir, sim uma verdadeira batalha literalmente falando, deixando o comandante da tropa santista Emerson Leão, munido de um efeito suspensivo, extremamente abalado e preocupado com a integridade física de toda a delegação santista.

Sob tiros da polícia local, o Peixe entrou em campo no Estádio Gigante del Arroyito, com uma superlotação que poderia comprometer a viabilidade da partida, além de expor grande risco a todos os presentes. Embora a capacidade oficial registrada fosse para 50.351 lugares, era clara a falta de infraestrutura para comportar tamanho numero de expectadores. Sendo assim, a equipe argentina havia prometido vender apenas 45 mil ingressos, para evitar maiores confusões. Doce ilusão. Pouco antes do início da partida, mais de 5 mil argentinos simplesmente conseguiram invadir o estádio, driblando os seguranças e sem ao menos terem ingressos, fazendo daquele estádio um verdadeiro inferno para o adversário brasileiro.

Além dos tiros e da superlotação que o estádio não comportava, o estado do gramado era lastimável, um verdadeiro pasto que daria inveja a muitos gramados de várzea que tive o prazer de torcer meus tornozelos numa frequência maior que eu gostaria. Havia muita sujeira, com muitos rolos de papel higiênico atirados nas duas áreas e nas laterais do campo. Ovos também eram atirados em direção aos jogadores do Santos e da polícia argentina.

A empolgação e fúria da torcida do Rosário era tão grande, e ameaçadora que os policias tiveram que dar 12 tiros para o alto, para os conter um pouco. A partida começou após 40 minutos de atraso, devido ao medo que os santistas e a arbitragem sentiam, pela sua integridade física, após quase serem agredidos pelos torcedores. E vou te falar, quem viveu a década de 90 sabe que não era qualquer algazarra que prejudicaria uma partida de futebol. E se já não bastasse toda essa balbúrdia em torno e dentro do estádio, o então treinador santista, Emerson Leão, fez questão de afirmar que aquela situação era nada menos que vergonhoso para o futebol daquele país, e que seu desejo era de não ter participação naquele episódio que poderia ter consequências graves se continuassem inertes àquela zona.

“Meus jogadores não tinham condições psicológicas para entrar em campo. Não tinham condição nenhuma, nenhuma. São jovens, todos com 20 e poucos anos. Só entramos mesmo porque, se não tivéssemos entrado, poderíamos ter morrido”. Afirmou o treinador. O repórter ainda o questionou: “Pra não morrer vocês vão precisar matar o adversário?” E Leão respondeu: “Se na entrada já teve tiro, nunca vi isso na minha vida, como será no final? a própria confederação não quer garantir nossa segurança, nunca vi isso no futebol.”

Não bastasse todo este enredo, o Santos tinha apenas 16 jogadores em condições de jogo na grande final, sendo três deles goleiros. Dos 25 jogadores inscritos na competição, quatro foram negociados durante a competição (Baez, Fumagalli, Dutra e Ronaldo Marconato), três estavam contundidos (Argel, Jorginho e Lúcio) e dois estavam suspensos (Jean e Viola). Assim sendo, o Santos foi a campo com os 11 jogadores titulares e apenas 5 suplentes.

Foto: Gazeta Press

Com a bola rolando, a agressividade e deslealdade do adversário e a valentia do time alvinegro foram a tônica de toda a partida, que teve domínio do Santos na etapa inicial, com várias oportunidades de matar o jogo, e uma verdadeira batalha, no mais puro sentido literal da palavra no segundo tempo em que poucas vezes na minha vida vi tanta pancada de todos os lados num jogo de futebol. Uma partida tensa, jogada com o coração no bico da chuteira. Mesmo com o Alvinegro um pouco mais recuado, a precisão de fazer um gol deixou os argentinos alterados e nervosos. Tentaram arranjar um pênalti a qualquer custo, com diversas confusões dentro da área. A catimba e inúmeras confusões fizeram o árbitro parar frequentemente o jogo.

Ficou assim até o apito final, quando finalmente, com muita valentia e garra, o Santos conquistou o título da Copa Conmebol! Um título que muitos não mencionam, ou preferem relegar ao segundo plano, romantizando e valorizando a frustração em uma década marcada por derrotas doloridas (95 e 98), ao invés de exaltar a luta de todos os guerreiros que deram o coração e o sangue vestindo branco na lama de Rosário, pra erguer aquela taça que foi um oásis para todo o torcedor sedento.

 

1 Comment

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  1. João Carlos

    8 de abril de 2021 at 14:49

    Um título que deveria ser mais valorizado.
    Se não me engano até o técnico Leão, foi agredido.
    Que aliás defendeu muito bem os seus jogadores.

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