Bastidores

Saída de Luan Peres, Zé Roberto quase no São Paulo e situação política do Santos: ex-presidente Marcelo Teixeira abre o jogo

O Pauta Quente, no canal do Meu Peixão, recebeu na semana passada o ex-presidente do Santos e ex-presidente do Conselho Deliberativo, Marcelo Teixeira.

Mais jovem presidente da história de um clube brasileiro em seu primeiro mandato, quando, em 1991, assumiu o Santos com apenas 21 anos, Marcelo, logo de cara fez um breve comentário avaliando os seis meses iniciais da gestão de Andres Rueda.

No que se refere ao futebol, eu, particularmente, vejo com uma certa preocupação. Porque há muito tempo nós não lutávamos com classificações abaixo da expectativa em um campeonato estadual a ponto de não se classificar nem para a fase decisiva do Paulista. Precocemente também saímos da Libertadores, fato que não acontecia desde 1984, nós voltamos ao cenário nacional a partir de 2000, com repetidas participações em Libertadores e sempre disputávamos quartas de final, semifinal e até a final em 2003 e 2011. (A gestão) não era o que esperávamos no futebol. No Campeonato Brasileiro alternamos bons e maus resultados, não temos regularidade e isso preocupa em um campeonato longo, que exige você ter um plantel. Volta a dar certa preocupação para o torcedor santista.“, reclamou.

O ex-presidente, que também foi presidente do Conselho Deliberativo na gestão de José Carlos Peres e Orlando Rollo, comentou sobre as necessidades de ter identidade na gestão do futebol e de um profissional que dê respaldo à diretoria junto ao elenco.

A gestão precisa ter uma identidade no futebol, com aqueles que cercam o presidente Rueda para que tenha boas decisões. Não apenas o Comitê de Gestão, mas acho que desde o futebol de base até o profissional precisa de dirigentes que venha a dar uma retaguarda como nós tivemos nas nossas gestões. Você não consegue dirigir sozinho, tomar decisões isoladas. Você tem que ter decisões compartilhada com aqueles que realmente possam te dar um respaldo e uma situação para minimizar os erros. Erros acontecem, mas tendo assessoria nos departamentos, você vai ter um caminho mais sólido e consistente para as decisões e, automaticamente, os resultados no campo serão diferentes.“, analisou.

Marcelo Teixeira também revelou que seu grupo político foi o principal idealizador do chamado “Chapão”, junção de forças políticas do Santos que se uniram para eleger a atual gestão, e explicou os motivos que o fizeram “pular do barco” e não estar no pleito eleitoral, seja como membro do Comitê de Gestão ou mesmo como candidato à presidência.

Nós fomos os idealizadores do “Chapão”. Nós, o (Celso) Jatene (presidente do Conselho Deliberativo) e alguns outros que estavam naquele momento. Decidimos, porque achávamos importante a união dos santistas em prol do Santos Futebol Clube. Tanto que tentei, até o último momento, fazer com que possíveis candidatos, que acabaram saindo para colocar os seus nomes à disposição do quadro associativo, pudessem compor esse grupo para que o Santos formasse, de fato, uma condição forte de representatividade. Não conseguimos e nós ocupávamos um cargo importante que era o presidente do Conselho Deliberativo e decisões, naquele momento, de processos de impedimento do presidente, de mudança estatutária, era uma meta da mesa do CD fazer o voto à distância. E eu não queria que aquelas decisões pudessem interferir na parte política. Preferi me isolar e sair.“, explicou.

Outra pauta importante levantada e comentada por Teixeira foi em relação aos arquivamentos de diversos processos que estavam com a Comissão de Inquérito e Sindicância, entre eles, estão o caso da contratação de Leandro Damião, Doyen Sports e diversos outros, como o processo que envolvia o Comitê de Gestão de Odílio Rodrigues, que tinha como membro José Carlos Berenguer, que também faz parte do CG atual.

Esses processos não estavam parados, ao contrário! No caso dos processos recentes do presidente Odílio Rodrigues, dos membros do Comitê de Gestão, se encontra até na própria CIS. Diante de tantos processos que estavam ali, priorizamos parte deles. Dentre eles, este mesmo. Na qual, naquela oportunidade, que era o presidente  da CIS o Vidal Sion e os demais membros da CIS, quando os processos retornaram da justiça, entenderam de convocar todos os envolvidos para apresentarem suas defesas, e assim foi feito, para que na decisão não fosse cometida nenhuma injustiça de dar uma possível punição igualmente a todos aqueles que estavam envolvidos. Isso que a mesa do Conselho Deliberativo ouviu da CIS. Isso foi em 2020, na nossa gestão, este processo voltou da justiça em outubro, se não me engano, e nós imediatamente enviamos à CIS, para que ouvisse, eles entenderam, os envolvidos, já que a CIS de 2020 entendeu que a possível punição dada aos envolvidos pela antiga CIS não era justa.“, explicou.

Marcelo Teixeira revelou que não decidiu se participará do projeto de funding por não ter entendido em totalidade o projeto.

Eu não entendi bem ainda esse mecanismo, a maneira como se dará o respaldo e de que forma isso será cobrado. Aguardarei um pouco mais, porque acho que qualquer tipo operação financeira deve ter muito cuidado, principalmente em termos de juros, correções e possíveis vantagens, que acho que nenhum desses santistas, que pudessem participar, teriam.“, ressaltou.

Empresário de sucesso no setor educacional da Baixada Santista, Teixeira nunca escondeu o amor pelo Santos e sempre se mostrou disposto a ajudar o clube financeiramente e revelou ter conversado com o presidente Andres Rueda e se colocado à disposição para apoiar o Santos.

Fomos conversar com o presidente principalmente pela nossa angústia, pela maneira como o Santos estava na competição e, óbvio, poder manifestar o apoio às decisões que o presidente vinha adotando. Nesse momento, não adianta apenas críticas negativas e você ficar de palanque na arquibancada esperando as coisas acontecerem. Presidente convidou, nós fomos à Vila, conversamos, ele mostrou uma série de decisões e trabalhos de curtíssimo prazo na questão administrativa, notamos que ele tem o controle das informações de tudo que acontece no clube. (…) Naquele momento, ele falou dessa possível operação, mas sem dar tantos detalhes porque ele preferiu primeiro passar ao Conselho para que pudesse soltar a operação, mas sem detalhes de juros e correções. Eu percebi que ele não tinha concluído isso, mas, óbvio, o que eu disse é que se o Santos precisasse de algo, como já aconteceu, independente de homens e gestores, estaríamos à disposição para ajudar, independente da operação, de juros, empréstimos, correções. Estaríamos dispostos a apoiar naquilo que fosse necessário.“, revelou, antes de comentar que em sua gestão exista uma fome por títulos e por tornar o Santos uma potência nacional novamente.

Eu tinha o compromisso com o quadro associativo e com a torcida de tirar o Santos da fila. De fazer com que disputasse competições, quatro meses depois, fomos disputar o Campeonato Paulista com o São Paulo. Para mim, foi um objetivo alcançado. Desde 1984, nós ficamos mais de quinze, dezesseis anos amargurando. Essa torcida mais nova, acostumada com títulos, não sabe o que eu estou falando, fala da boca para fora, de gestão, de exemplo, mas não sabe o que sofrer. Nós não tínhamos mais ídolos, referência. Isto é fruto de um trabalho, de um investimento, do qual muitos comentam que o Marcelo Teixeira endividou o Santos e cobra até hoje os valores. Mentira! Se eu tivesse contabilizado os valores que eu fiz as contratações no início da minha gestão, o Santos até hoje não poderia ter condições de ressarcir esses valores. A contabilidade está lá!“, explicou.

O ex-presidente, campeão brasileiro em 2002 e 2004, falou sobre a chegada do meio-campo Zé Roberto, em 2006 no seu retorno ao Brasil após oito anos no futebol alemão, atravessando à época um pré-acerto do jogador com o São Paulo.

O Zé Roberto estava praticamente acertado com o São Paulo, que tinha um contato com o empresário dele, e nós fomos fazer uma visita ao empresário que queria fazer uma excursão de jogos aqui na América do Sul. Estava eu e o Norberto Moreira, meu vice, e eu falei para o Norberto ficar conversando com o Zé Roberto, porque, se bobear, a gente pega e contrata. Quando eu voltei de falar com o Juan Figger sobre a excursão, o Norberto me avisou que o Zé Roberto queria ficar no Brasil, mas ia fazer um tratamento no São Paulo e tinha um pré-acordo para jogar pelo São Paulo. Aí eu falei: “Ah, não! Fica conversando com o Figger que eu vou falar com o Zé Roberto”. Conversa vai, conversa vem, pus o Luxemburgo no telefone e falei pra ele convencer o Zé, que ia cair como uma luva no Santos. Ele me disse: “Deixa comigo, deixa comigo. E nós temos condição financeira, presidente?”. Aí eu expliquei que sim, porque o Zé estava livre e o acerto seria direto com o jogador e conseguimos uma manobra fantástica. Porque, modéstia a parte, as nossas maiores manobras foram rasteiras nos nossos coirmãos (risos)“, gargalhou.

Marcelo Teixeira também explicou detalhadamente a polêmica de Rodrigo Tabata, que foi emprestado e reemprestado, sem a autorização do Santos.

Nós emprestamos o Tabata ao clube árabe, que reemprestou o Rodrigo Tabata sem a anuência do Santos. Isso foi no final da minha gestão, faltando dois ou três meses para acabar. Entramos na FIFA através do nosso advogado internacional, dr. Marcos Mota, para que o jogador retornasse ao Santos e o Santos tivesse os seus direitos. Afinal de contas, apenas um clube tinha pago o empréstimo, o outro não tinha pago e o Santos não tinha autorizado nada da transferência. Então, fizemos com que o jogador tivesse a legitimidade de retornar ao Santos e buscamos nossos direitos através da FIFA para que o Santos recebesse os recursos a que tinha direito pelo empréstimo. Aí, assumiu a nova gestão dizendo: “O Rodrigo Tabata foi emprestado sem o Santos receber nada”, dando a entender, naquela oportunidade, que algum dirigente teria levado dinheiro à parte, não o Marcelo Teixeira porque todo mundo conhecia.“, disse, antes de explicar o desfecho da história e brincar com a suposição de que algum teria sido beneficiado.

Depois, que a FIFA decidiu, se não me engano em fevereiro, o clube que emprestou foi penalizado, teve a multa paga ao Santos, e o clube que pagou o empréstimo a este outro clube, repetiu o pagamento ao Santos Futebol Clube. Então, o Santos não saiu lesado em absolutamente nada e ninguém teve nenhum benefício. Está lá contabilmente para qualquer um ver que o clube pagou o Santos em 2010. Querem dar a margem de que o Marcelo Teixeira ou algum dirigente teve benefício com o Tabata. Muito pelo contrário, né? Se eu quisesse ter algum benefício com futebol, vocês acham que eu teria benefício com Rodrigo Tabata? É uma piada isso, né? Quem teve Zé Roberto, Robinho, Neymar, Diego, teria benefício com Rodrigo Tabata? Com todo respeito ao Rodrigo Tabata. (Risos).“, brincou.

Outro comentário de destaque do ex-presidente foi sobre a iminente venda do zagueiro Luan Peres para o Olympique de Marseille, da França. Teixeira disse que não venderia pela importância do atleta para o elenco, a não ser em caso de uma proposta irrecusável.

Eu não sou o presidente. Eu, particularmente, pelo que eu noto, o Santos fez contratações pontuais para o elenco para que tivesse condições de desempenhar melhor (…) Se nós temos dificuldade financeira no sentido de buscar alternativas de melhor qualidade, ao mesmo tempo nós ganhamos o Sánchez que retornou e tivemos, por parte de alguns atletas, a condição de melhorar o grupo. Mas, ao mesmo tempo, desde que o Rueda assumiu, tivemos perdas, como o Pituca, Lucas Veríssimo, Soteldo. Não são perdas quaisquer, são perdas fortes no elenco. Então, eu, a não ser que fosse algo irrecusável, e tenho certeza que o presidente vai saber analisar isso, não perderia um jogador da liderança e da qualidade do Luan Peres.“, opinou.

Marcelo Teixeira presidiu o Santos nos anos de 1991 até 1993 e, posteriormente, de 2000 até 2009 (além de ter sido presidente do Conselho Deliberativo do clube de 2018 até 2020). Sob sua gestão, o Peixe conquistou o Paulistão de 2006 e 2007, Brasileirão de 2002 e 2004; e a Copa Paulista, além de diversos títulos com o futebol feminino, como a Copa do Brasil de 2008 e 2009, Libertadores de 2009, Paulistão de 2007, Liga Nacional de 2007, Liga Paulista de 2009 e Copa Mercosul de 2006.

Confira abaixo o vídeo completo da entrevista com Marcelo Teixeira:

2 Comments

Comentário(s)

  1. António Oliveira

    16 de julho de 2021 at 01:23

    Sr marcelo esqueceu de comentar sobre a dinheirama que o clube recebeu da venda de Diego e Robinho e quais legados deixou ao clube com esses valores.

  2. MARCO A CAMARGO

    15 de julho de 2021 at 22:45

    Quem lê pensa que ele foi o melhor presidente do Santos. Mas quem tem memória sabe que o buraco começou a ser cavado aí. O Laor quando assumiu depois dele teve que fazer o que o Rueda está fazendo agora, pagar dívidas e renegociar um monte de contratos. Como presidente do conselho não fez absolutamente nada para impedir o desastre provocado pelo Peres. Deu muita sorte com Robinho e Diego, assim como o Laor deu sorte com Neymar e Ganso. A atual gestão está tendo que suar porque até a base que sempre foi nossa salvação, hoje não é lá essas coisas.

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