Uma sina atormenta a paz do torcedor santista na última década. Com atualizações de novos episódios com diferentes personagens, temporada após temporada: A velha e tradicional mania do Santos perder alguns dos seus mais importantes jogadores de graça. Sim de graça, até mesmo para alguns rivais.
Isso vem ocorrendo ano após ano, por diversos motivos: Decisões judiciais que rescindem o contrato de forma unilateral; Pedidos salariais que extrapolam a lógica da realidade do mercado brasileiro; A realidade do clube que não vive seus melhores dias na questão financeira, o que com certeza pesa na hora de renovar; E, até mesmo, o que é bastante comum, por pura incompetência das gestões do nosso querido Santos FC na última década.
A novela da vez é Kaio Jorge. Até hoje, dia 17 de março de 2021, ainda não renovou seu contrato profissional com o Alvinegro Praiano. Seu contrato, o primeiro profissional que pela lei deve ter duração de 3 anos, vence em dezembro deste ano. Ou seja, daqui 9 meses.
Essa renovação possui tantas peculiaridades, decorrência de situações do passado e outras recentes, que merecem uma breve atenção do leitor, para que a luz laranja que acendeu na minha cabeça acenda na cabeça de vocês também. Desejo neste texto, elucidar fatos que poderão formar sua opinião na hora de definir de quem será a culpa caso tudo dê errado e Kaio Jorge não renove conosco, saindo de graça no fim deste ano.
O primeiro ponto é conhecido da maioria dos santistas que procuram se informar sobre o dia a dia do clube. Dividas. E não qualquer divida, e sim uma existente por pelo menos duas gestões, contraída justamente pelo ex-presidente Modesto Roma Jr. (toc toc toc) com o empresário do atleta, Giuliano Bertolucci (Empresário também do Sandry, o que me faz perder a coloração de alguns fios do meu cabelo). O empresário realizou um empréstimo de 6 milhões de reais ao clube que hoje em dia, com juros e correção monetária está na casa de 12 (DOZE!!!) milhões de reais. Ok, respira um pouco… talvez você já soubesse isso, mas toda a vez que leio/ouço isso, começo a folhear o código penal pensando no que fazer contra o senhor que presidiu o clube nesta época, não faça como eu. Enfim, ocorre que durante a gestão Peres, essa divida foi parcelada mais de uma vez, e o clube pagou ROSCA de prestações, NADA, ZERO.
Vamos fazer um exercício de imaginação: Somos esse empresário do atleta, renovando com o clube que me fez ficar 6 milhões de reais mais pobre (na verdade menos rico, afinal, o cara tinha 6 milhões disponíveis para empréstimo). Certamente não iríamos aliviar um centímetro para beneficiar quem nos sacaneou, certo? Por outro lado, embora a obscuridade das negociações dentro do futebol nos passem a imagem de que os empresários detém o máximo poder dentro do business da bola, devemos lembrar que qualquer “empresário/procurador/advogado” de um atleta deve zelar pelo SEU INTERESSE. E embora haja qualquer tipo de rusga entre as partes presentes na dívida de outrora, NADA desta negociação pode ocorrer sem o aval do atleta, objeto da renovação em questão.
Kaio Jorge não fez parte sequer da delegação que viajou para a Venezuela para enfrentar o Deportivo Lara, no jogo de volta das eliminatórias da Libertadores da América. Só o jogo mais importante da temporada até então. Ocorre que o jogador, segundo informações, não foi diretamente vetado pelo departamento médico por nenhum teste clinico, mas pediu para não viajar, alegando certo desconforto na região da sua lesão. Nosso papel aqui não é confabular ou usar de teorias conspiratórias, embora tenha simpatia pela prática de desconfiar de tudo.
Não duvido que haja o desconforto. Não duvido que talvez o jogador queira se preservar de uma lesão reincidente. Mas, quando soube que partiu dele o pedido, eu comecei a me lembrar de que foi o mesmo jogador que voltou de convocação pela seleção de base e jogou pelo Santos na temporada passada, que já jogou jogos no sacrifício e mostrou alto nível de comprometimento na ultima temporada.
Os próximos capítulos desta novela revelarão muitas coisas. E vias de assinar um novo contrato profissional, com a possibilidade real de não ser com o Santos, estar saudável e plenamente ativo é importante para suas aspirações pessoais. Em analogia ao poker, o momento é de analisar e jogar com a mão do adversário, e para Kaio Jorge se sacrificar neste momento e arriscar uma nova lesão pode ter parecido perigoso demais por não saber o que lhe espera daqui há três meses, quando poderá assinar um pré-contrato com qualquer equipe. Afinal, é um jogador com passagem em praticamente todas as seleções de base, campeão e titular. Muitos clubes, de dentro e fora do Brasil, tem monitorado Kaio Jorge durante toda sua formação.
Não vamos esquecer que pesa contra nós, a famosa carta dada pelo ex-presidente Peres (cruz credo, repete esse nome não, por favor), autorizando, sem o aval do empresário Bertolucci, um agente estrangeiro negociar o atleta em nome do clube.
É fato também que Andres Rueda, o atual presidente e gestor do clube de Vila Belmiro se encontra mais uma vez, com a faca no pescoço por uma situação extremamente delicada e cheia de pormenores advindas de sequelas das gestões desastrosas da ultima década, que demandará extrema inteligência e jogo de cintura para poder tomar a melhor decisão em prol do Santos.
Por um lado existem aqueles “torcedores” que esperam ansiosamente pelo seu erro de tornar Kaio Jorge um jogador “overpaid” (ganha mais do que merece), e criticá-lo por colocar em risco a austeridade financeira do clube por um jogador que era extremamente contestado entre os torcedores, antes das quartas de final da ultima Libertadores da América contra o Grêmio, quando desabrochou e foi fundamental para nossa classificação naqueles embates. E acabar ficando preso a um contrato longo e caro com um jogador que pode não corresponder a altura tudo o que se espera dele. E também existem aqueles que atormentariam a vida da gestão caso Kaio Jorge não renovasse, e pagariam o que fosse necessário para não perder o jogador de graça e sofrermos o que sofremos com: Arouca, Zeca, Lucas Lima, Gustavo Henrique, Leo Cittadini, Robson Bambu, Nikão, Geovani (este ultimo sem mesmo ter jogado no profissional), entre outros.
A negociação envolve tantos pormenores e peculiaridades que nenhum resultado é tão simples o suficiente para culpar alguém de forma simplista. Embora recentemente o presidente tenha dito em entrevistas de que a cada dia que passa, estão mais perto de um denominador comum entre as partes envolvidas. Mas, a cada dia que fica mais perto o período de 6 meses de um futuro pré-contrato, mais complicado se tornará para a direção conseguir um acordo justo que não a faça apostar alto ou perder de graça. Fica a torcida para que independente do acordo, o tempo mostre que foi o melhor para o Santos.
Gabriel Mendes Zupo
17 de março de 2021 at 18:30
Como sempre o Santos deixa para renovar no fim de contrato e fica nas mãos do empresário mas nesse caso a culpa não será do Rueda