Única mulher repórter de campo do ABC Paulista, engajada nas lutas do feminismo, entusiasta do futebol feminino e fanática pelo Santos Futebol Clube. Neste 31 de março, o Portal Meu Peixão encerra a série “Mulheres da Vila”, em homenagem ao Mês Internacional da Mulher. A entrevista é com a jornalista Natália Santana, que conta sobre a chegada definitiva das mulheres na grande mídia, além da oportunidade em trabalhar em uma transmissão 100% feminina.
Natália ainda falou sobre a evolução do futebol feminino no Brasil, a chegada da modalidade na TV aberta, além do grande sonho de trabalhar no Santos, para poder acompanhar mais de perto o seu time do coração.
Lucas: Recentemente, a Rede Globo anunciou a contratação da narradora Renata Silveira, que já estreou de forma brilhante na emissora e teve na sua primeira transmissão uma repercussão bastante positiva. Na sua opinião, é questão de tempo para termos uma transmissão 100% feminina na TV aberta?
Natália: Eu acho que já é um cenário onde já podemos ver a mulher ocupando o seu espaço na TV aberta. Na final da Libertadores Feminina (Ferroviária x América de Cali-COL), que foi transmitida pela Band, podemos dizer que a transmissão foi 100% feminina, apesar de não ter uma repórter de campo, até em virtude da pandemia. A Band transmitiu com a Isabelly Morais narrando, e com a Milene Domingues e a Aline Callandrini nos comentários. Então já podemos observar esse cenário de uma transmissão 100% feminina, com a Band como sempre sendo pioneira nessa questão e dando espaço para as mulheres. Ainda não é comum você ouvir uma narração feminina, porque todo mundo está acostumado com o homem narrando, mas é questão de acostumar e entender que a narração feminina é diferente. Eu tive a oportunidade de fazer uma transmissão 100% feminina por uma rádio em 2017, no jogo entre São Paulo x Bahia, última rodada do Brasileirão. Eu fui a repórter de campo, e tive o prazer de dividir a transmissão com a narradora Eliane Trevisan e a comentarista Juliane Santos. Tive também a oportunidade de fazer uma transmissão 100% feminina na TV da FPF.
Lucas: As mulheres estão ganhando cada vez mais espaço na mídia esportiva. Como maiores exemplos disso, nós temos a Ana Thaís Matos como comentarista (Globo/SporTV), a própria Renata Silveira na narração (Globo), a Renata Fan (Band), que comanda uma mesa-redonda esportiva na TV aberta há 14 anos com o Jogo Aberto, além da própria Nadine Bastos (Globo/SporTV) como comentarista de arbitragem. Na Fórmula 1, por exemplo, temos a repórter Mariana Becker (Band), que está há 14 anos na cobertura da categoria, todos feitos pela Rede Globo. Isso é a prova de que as mulheres estão ganhando definitivamente o seu espaço?
Natália: Deveria ser algo comum a mulher ocupar o seu espaço no jornalismo esportivo, e em qualquer área. Fórmula 1, futebol, basquete, enfim, em outras áreas também. Nós não deveríamos estar hoje na qualidade de ainda ficar discutindo esse cenário da mulher ocupando o seu espaço, mas como ainda vivemos numa sociedade que ainda é atrasada e reflete muito em todas as áreas o machismo que é estrutural, podemos dizer que sim, que é um caminho sem volta para a mulher, que ocupa o seu espaço e tem cada vez a voz mais ativa para atuar em diversas frentes do esporte, do jornalismo ou de qualquer outro segmento que ainda é considerado masculino. Então nós podemos dizer que é um avanço para a mulher, uma ocupação de espaço. Cada uma consegue ter a experiência e o espelho da outra. Esse espaço acaba motivando cada vez mais as mulheres a buscar o seu sonho.
Lucas: A Band transmitiu na última temporada o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino. Neste ano de 2021, a Globo cogita transmitir a competição nas manhãs de domingo, em um espaço que antes era da Fórmula 1. Você acha que o futebol feminino chegou para ficar na TV aberta?
Natália: O futebol feminino já é realidade no Brasil e não é de agora. Já faz alguns anos que a modalidade vem crescendo e ocupando o seu espaço no cenário nacional. Há muitas mídias independentes que trabalham divulgando a modalidade, e gera uma audiência muito grande entre essas mídias alternativas. Com o avanço do futebol feminino, que vem crescendo muito tecnicamente e taticamente, com a visibilidade que essas mídias independentes vêm alcançando cada vez mais, a TV aberta observa um cenário de grande evolução e acaba também investindo na modalidade. É óbvio que a TV aberta dando esse espaço e essa audiência pro futebol feminino, a tendência é que as marcas acreditem e invistam pra que a modalidade atinge esse cenário. Como nós dizemos no futebol feminino, esse é um caminho sem volta, porque a modalidade não vai recuar mais e só tende a crescer, a grande mídia tem feito um papel importante e tem dado essa visibilidade cada vez mais.
Lucas: Há quanto tempo você está na área do jornalismo esportivo, e quem é (ou quem foi) a sua grande inspiração?
Natália: Eu entrei na faculdade em 2013, e me formei em 2016. Desde 2015 eu já atuo na área. Comecei na Rádio Paraty aqui em São Bernardo do Campo. Aliás, atualmente, eu sou a única mulher repórter de campo no ABC. Tiveram outras antes de mim, mas atualmente eu sou a única, A minha inspiração desde criança sempre foi o Luciano do Valle. Ouvir as narrações dele me emociona muito, lembra muito da minha infância. Como eu não tinha muitas referências femininas, então eu me inspirava muito nele. Hoje, tem uma jornalista que eu admiro muito, que se chama Lu Castro, e ela atua na mídia independente. Ela é muito engajada no feminismo, no futebol feminino e no esporte feminino como um todo. Da grande mídia eu gosto muito da Marília Ruiz. Uma mulher muito inteligente e que ocupa o espaço feminino na grande mídia de forma brilhante. Eu fiz jornalismo por causa do Santos, o meu objetivo é trabalhar no Santos e me motiva muito tanto o masculino como as Sereias da Vila. Eu sou apaixonada pelo Peixão. Principalmente nessa questão da faculdade, porque eu só tive força para concluir o meu curso por causa do Santos. Toda vez que eu tinha dificuldade e pensava em desistir, eu pensei muito no Santos e tive força para conquistar o meu sonho. Tanto que, algumas vezes, eu faço a SantosTV, e é algo que me realiza muito.