Política

A régua Peres no Santos

Dizem que quando estamos em um novo relacionamento, nosso cérebro produz uma série de reações químicas que nos fazem perder parte da razão em busca de viver e exaltar aquele novo momento. Esquecemos ou ignoramos algumas atitudes da pessoa em questão, porque não conseguimos enxergar com nossos olhos muito além do que nosso cérebro, viciado na química produzida, precisa pra te manter naquela sensação de êxtase. Alguns chamam isso de óculos da paixão e todos já viveram isso, sem exceção.

O torcedor do Santos em si é um torcedor inconsequente e apaixonado, que tem enorme facilidade de amar e odiar qualquer que tenha a mínima relação com o clube. Da mesma forma que odeia e marca alguns jogadores pra sempre dentro de elencos não vencedores, consegue alçar ao posto de ídolo (e até pedem no muro), jogadores que não ganharam absolutamente nada na história do Alvinegro, única e exclusivamente pela carência de não ter quem amar naquele instante.

A mesma situação ocorre hoje com o presidente Andres Rueda, que se por um lado causa muito desconforto para alguns que esperam o seu fracasso, tem causado um frenesi enorme em alguns torcedores e associados por em pouco tempo ter aparentemente resolvido alguns problemas crônicos que assolavam o Santos por meio das ultimas gestões desastrosas, fazendo única e exclusivamente o óbvio. Sim, o óbvio.

E ai vem a principal pergunta para o torcedor/associado, com qual régua nós iremos medir a gestão atual? Com a régua Peres? Tantos absurdos foram feitos nas gestões passadas que hoje fazer o óbvio e o que se espera se torna algo mágico aplaudido de pé por muitos e que eleva o status do gestor à figura de um messias que veio pra salvar o clube de forma miraculosa.

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Para mensurar a enorme responsabilidade de gerir um clube tão rico de história e tradição quanto o Santos, nós, como fiscalizadores do nosso patrimônio, não podemos usar a régua Peres/Rollo e nivelar o modelo de gestão por baixo. Devemos sim valorizar os acertos mas com equilíbrio e sobriedade, sem romantizar ou dar carta branca de confiabilidade ao gestor, elogiar com calma quando o coelho sai da cartola do cartola.

Da mesma forma que devemos apontar os erros, com urbanidade, de forma objetiva e equilibrada. Não como alguns partidários de si mesmo, que pela sede do poder, acaba perdendo a credibilidade quando torce contra a instituição pra ver o rival político ser fracassado na gestão do clube que deveria amar.

Com quase 100 dias da administração atual, vemos acertos importantes que mostram a vontade de colocar novamente o clube no lugar de destaque dentro do cenário nacional e sul-americano.

Podemos elencar a quitação do débito com o elenco (obrigação do clube), a procura da diminuição da folha de salário por meio de empréstimos e rescisões com jogadores que não estão nos planos técnicos do Santos, a pesquisa com os associados, a continuidade dos estudos da arena em parceria com WTorre, resolução da dívida com o Atlético Nacional pelo Felipe Aguilar, a permanência de Luan Peres para a final da Libertadores e sua compra definitiva, a contratação de um técnico com ideias interessantes para o futebol do clube, ter conseguido em meio à pandemia um contrato com um patrocinador máster, algo que não ocorria há quase três anos no clube, e por ai vai…

Porém, não podemos esquecer da polêmica dos ingressos na final da Libertadores, do vazamento do contrato do Sabino, que expôs o atleta e o queimou com a torcida, além da liberação de Soteldo em meio à pandemia para visitar seus familiares. A atitude deixou o jogador, que tem o salário mais alto do atual elenco, quase duas semanas sem treino por não conseguir retornar ao país por conta do cancelamento dos voos internacionais, às vésperas de um confronto decisivo que irá definir o futuro do Santos no torneio mais importante da temporada.

O saldo desses quase 100 dias de administração ainda é positivo, ainda mais se analisarmos o rombo financeiro mais cenário pandêmico, porém, tudo o que foi feito é aquilo que se espera de uma gestão minimamente séria. Não há operador de milagres, e usar o óculos da paixão, medindo os atos da administração pela régua Peres/Rollo, nos trará apenas a certeza de que estamos criando um enorme ponto cego que afetará nossa objetividade sempre que for necessário apontar os erros.

Todo sucesso à gestão Rueda, porque o sucesso dela é o sucesso do time que nós amamos, e que o presidente tenha a certeza que a mão que eventualmente aplaudi-lo, será a mesma que apontará seus erros.

 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Meu Peixão.

1 Comment

1 Comment

  1. José

    31 de março de 2021 at 10:35

    Tenho concordâncias e discordância, desse ótimo texto,Vem bem ao encontro do que penso, no entanto só discordo qdo vc se refere ao caso Soteldo,o clube quis proporcionar ao atleta, matar saudades de seus familiares se não o faz teria um grande problema, já que o jogador não pertence ao clube,Tem dinheiro à receber para seus empresário e não tem como adivinhar que as fronteiras fechariam (ou sabiam).um abraço.

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