Bastidores

Coordenador das Sereias da Vila detalha situação da modalidade no Santos

Crédito: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/ Reprodução Site Santos FC

Colaboração de Fernanda Paes e Guilherme Cardoso  

Responsável por coordenar o futebol feminino do Santos, Amauri Nascimento está em sua terceira passagem pelo clube.  Gestor das Sereias de 2008 a 2011 e 2015 a 2018, além de duas temporadas no São Paulo, o profissional retornou à Vila Belmiro no início deste ano, período em que o esporte passou por reestruturação.

Com as dispensas do ex-gerente executivo Alessandro Rodrigues, o treinador do time principal Guilherme Giudice e do técnico da base Felipe Freitas, a torcida acompanhou também as saídas de muitas atletas da categoria de base, além de nomes importantes da comissão técnica como Thais Picarte e Paty Nardy.

Em entrevista ao Meu Peixão, Amauri explicou a sua atuação no clube, e falou sobre a polêmica envolvendo a saída da treinadora Christiane Lessa, que alegou ter sofrido uma tentativa de agressão por parte do treinador de goleiras, caso que está sendo investigado pelo Santos.

 Dentro do seu cargo, quais são as funções destinadas ao seu trabalho no clube?

“É de minha responsabilidade acompanhar o departamento num todo, observando as necessidade das atletas, comissão e áreas administrativas, me dividindo entre a base e a equipe adulta. Além de me reportar diretamente para o Departamento de Futebol, na pessoa do Jorge Andrade, que nos ampara, e se comunica com o Presidente, Vice e CG”.

 

Como é o seu trabalho no dia a dia? Você acompanha treinos, jogos e viagens de perto?

“Meu trabalho é diário, fico na Vila Belmiro na maior parte da semana, acompanhando e auxiliando nas rotinas administrativas do departamento, indo aos treinos e em jogos. Nessa primeira fase do Campeonato Brasileiro, não estive em partidas fora da Vila, devido ao nosso orçamento ser mais restrito, para dar preferência a quem deve estar nos jogos, como atletas e comissão técnica. Também vou aos treinos das equipes de base ao menos uma vez por semana e faço reuniões com a comissão técnica da base, para alinhar os trabalhos”.

 

Houve evolução no futebol feminino desde a sua primeira passagem pelas Sereias até hoje? Você acredita que o trabalho de supervisor no futebol evoluiu e tem acompanhado esse desenvolvimento?

“Sim, o futebol feminino vem se desenvolvendo ao longo do tempo. O cargo de supervisor e a chegada das funções de coordenador e gerentes deixam os trabalhos bem separados, porém um complementa o outro. No caso deste ano, a Aline Xavier é a nossa supervisora, eu o coordenador, e o Jorge Andrade nosso gerente, responsável por nos auxiliar com as demandas”.

 

Qual a atenção que a diretoria do clube tem dado à modalidade, tendo em vista que houve um desmanche recente na base?

“A atenção é total, não houve ‘desmanche’, estamos em um momento de transição e crescimento das categorias de base. Atualmente o clube não tem como fazer novas promessas e, dentro das condições que o momento proporciona, com as jogadoras recebendo ofertas de assinarem contratos de formação, o Santos não poderia atrapalhar e fez a liberação das atletas que solicitaram.

Gostaríamos muito de poder reter todos os talentos que irão aparecer nas categorias de base, porém, o funil é pequeno, teremos sempre que observar as necessidades da equipe principal, para que as atletas que puderem fazer parte, continuem seus processos de formação junto com as jogadoras adultas”.

 

O que motivou a reestruturação da base e qual o motivo de terceirizar o projeto?

“Estamos buscando um alinhamento de metodologia junto com o nosso parceiro, o trabalho não foi terceirizado, as atletas que são do Santos seguem uma programação de treinos junto dos profissionais. Atualmente temos três funcionários do Santos que atuam diariamente com as atletas (treinadora, auxiliar técnico e preparadora física), e ainda contamos com a colaboração de voluntários ligados ao nosso parceiro, para auxiliar em outras funções.

 Utilizamos o mesmo local para os treinos, porém com ênfase na criação do modelo de jogo para as categorias e nos campeonatos que iremos participar. Trabalho diário com treinamento físico, técnico e tático. Além de suporte nutricional e de fisioterapia”.

 

Por que o Meninas em Campo tem total autonomia na categoria de base, tendo em vista que fica em São Paulo, longe da vista da diretoria do clube?

“O Meninas em Campo é parceiro das categorias de base do Santos. Os treinamentos são geridos pelos profissionais do clube, dentro de um horário que já foi alinhado com o projeto, sem gerar conflitos e prejuízos para ambas as partes. Infelizmente, na cidade de Santos não temos como absorver, dando condições de moradia e local de treinamento para as categorias de base feminina, dentro da atual estrutura do clube, além da cidade de São Paulo e região metropolitana terem um número grande de meninas praticantes de futebol. O benefício para o clube com a parceria é que o projeto absorve meninas de uma faixa etária menor, fazendo com que elas tenham mais tempo de contato com a prática de futebol monitorada, e com metodologia similar ao que é aplicado em nossas categorias de base”.

 

Faltou mais atenção à base em especial às atletas que saíram e se disseram “desamparadas” pelo clube?

“Realizamos uma reunião com os pais das atletas para falar o real cenário do clube (naquele momento), de reestruturação da comissão técnica, implementação de uma nova metodologia de treinamento e o alinhamento sobre a ‘promoção’ das atletas para a equipe principal. Mediante a exposição de tudo isso, deixamos os pais e responsáveis à vontade para decidirem o futuro de suas filhas, porque nas categorias de base lidamos com o sonho das meninas e de seus familiares. Quem decidiu buscar uma nova oportunidade foi liberada, porém, estão sendo monitoradas para acompanharmos o desenvolvimento técnico e tático”.

 

Nomes como Thais Picarte e Paty Nardy deixaram o clube mesmo sendo importantes para o desenvolvimento do time principal e base. Como foi feita a seleção de profissionais, ao pensar na reorganização?

“Os novos profissionais que fazem parte do departamento chegaram através de seus trabalhos anteriores, além dos seus currículos capacitados e com histórico no futebol feminino, resultados alcançados em sua trajetória profissional”.

 

Quais as expectativas para os campeonatos Sub-16 e Sub-18, tendo em vista serem torneios fundamentais para o desenvolvimento da modalidade? Há preparação para possíveis imprevistos nesse período, como falta de suporte às atletas e comissão técnica?

“As expectativas estão dentro da nova realidade, começo de um trabalho, novas jogadoras e uma nova metodologia, os campeonatos são importantes para que essas atletas já tenham contato com o cenário competitivo para o desenvolvimento, porém, são partes de um trabalho. Ser campeão é maravilhoso, uma experiência fantástica para as jogadoras, agora o papel principal de uma categoria de base é poder formar novas atletas, com repertório técnico, conhecimento tático, leitura de jogo e de posicionamento em campo ,e que possam seguir atuando na categoria adulta do clube ou de outra agremiação.

Para o campeonato Sub-18 as comissões técnicas da equipe principal e das categorias de base, estão alinhando um planejamento para que as meninas que possuem idade possam participar. O foco é sempre dar o maior tempo de jogo e proporcionar o desenvolvimento das atletas”.

 

Há um mapeamento feito em atletas que atuam no exterior ou em outros clubes do país e que podem ser contratadas? Como suprir a falta de peças de reposição, como no time principal que tem atuado com apenas uma zagueira de ofício, devido aos desfalques?

“Sim, já existia esse mapeamento e o trabalho não para. São utilizadas ferramentas para monitorar jogadoras em competições no Brasil, ligas internacionais e seleções. O InStat é a principal plataforma, onde pode-se definir o perfil e características das jogadoras a serem observadas e também buscar especificamente uma jogadora, com informações qualitativas e quantitativas. Os sites de ligas são utilizados para agregar informações, além de plataformas livres e de transmissões de jogos em streaming”.

Na temporada atual o clube conta com 28 jogadoras, quatro são zagueiras de origem (Camila, Day, Tayla e Sassá), além de duas jogadoras que podem e estão atuando como na posição (Fê Palermo e Bia Menezes), diante do cenário de lesões e enfermidades, aconteceram atuações com maior frequência de jogadoras não originárias da posição”.

 

Após a saída, Chris Lessa disse que te comunicou sobre a possível tentativa de agressão sofrida por meio de um funcionário do clube. Isso é verdade? Se sim, por que nenhuma providência foi tomada? Vocês sabiam do clima conturbado?

“A própria Chris Lessa já se posicionou sobre a ‘tentativa de agressão’, fui informado da discussão, infelizmente não estava no clube, no dia seguinte, conversei com ela pessoalmente. Ela me solicitou a retirada dele do banco de reservas que foi prontamente atendido, depois conversei com ele sobre o ocorrido e em ambas as conversas o ponto principal foi que não deveria mais ocorrer discussões, e que ambos deveriam buscar maior entrosamento pacífico técnico e pessoal. O assunto vem sendo tratado internamente.

Gestão de pessoas é processo que precisamos ter o máximo de entrosamento com o trabalho, tínhamos reuniões com a comissão técnica semanalmente para alinhar os pensamentos, treinos e logística para os jogos quando continham viagens”.

 

Como lidar internamente com questões políticas, amizades e trabalho, tendo em vista que exemplos como o treinador de goleiras Waltinho tem relações muito próximas com funcionários do clube?

“As relações são bem separadas, todos que estão dentro do departamento estão pela sua competência profissional, o Walter é funcionário do clube, tendo sua trajetória iniciada no futebol feminino. Após o encerramento do departamento em 2012, ele foi absorvido pelas categorias de base, seguindo sua trajetória vencedora, adquirindo mais experiência e capacitação, em 2019, o mesmo já havia tido um convite durante a temporada para voltar ao futebol feminino, porém houve um entendimento mútuo que não era o momento.

Como estávamos iniciando a temporada, um novo trabalho e devido ao passado vencedor do Walter na modalidade, fiz o convite e ele aceitou retornar ao departamento. Foi bem aceito pelas goleiras e alinhou o seu trabalho ao que foi pedido pela treinadora, nas questões de posicionamento em campo”.

 

As saídas da Emily Lima e da Chris Lessa  foram por motivos diferentes, mas ambas falaram ao sair sobre questões de “panelinhas” internas. Como a direção pode atuar para que situações de subgrupos não prejudiquem o desenvolvimento do projeto?

“As atletas têm comportamentos profissionais, sempre buscando cumprir o que a comissão técnica passa nos treinamentos para ser aplicado nos jogos, as relações de amizades entre as atletas não é colocada para dentro do campo, ali são todas correndo pelo mesmo objetivo”.

 

Falta mais interação entre atletas, comissão técnica, administração e gerência dentro do clube? Em algum momento o feminino foi menos observado de perto que o masculino? Como equiparar?

“Existe uma interação dentro do clube e o futebol feminino tem o mesmo cuidado, temos reuniões com a gerência de futebol e estão dando o suporte e auxiliando nas decisões do departamento”.

 

Acredita que falta transparência na interação da modalidade na imprensa, com mais coletivas, entrevistas e até mesmo sua presença mais visível no clube e na mídia? Como melhorar essa relação?

“Minha presença é diária no clube, sendo na cidade de Santos ou na cidade de São Paulo com a categoria de base, estou nos treinos e nos jogos, converso com todas as atletas e a comissão e acompanhando as rotinas administrativas do departamento. Não concordo com essa fala de falta de transparência. Sobre entrevistas, basta chamar o Departamento de Comunicação, que sempre está pronto a atender a imprensa, tanto que estou aqui dando entrevista”.

 

Quais os projetos para o desenvolvimento do futebol feminino no clube?

“Os planos para esse triênio são:

Organizar o departamento de dentro para fora, organizando as comissões técnicas (principal e base), criando um departamento médico dedicado e alinhado com as diretrizes do clube.

O alinhamento metodológico para as categorias de base, podendo ter atletas durante um período maior dentro da mesma metodologia, do Sub-16 ao Sub-18.

Poder ofertar um contrato de formação para as atletas da base e cumprir com as contrapartidas, e não apenas oferecer uma ajuda de custo.

A condução do trabalho é constante e diária, com o suporte da nossa gerência , focando nas competições que estamos disputando, observando as atletas para a próxima temporada e avaliação constante do elenco e comissão”.

 

O Santos anunciou hoje a nova técnica:

Tatiele Silveira é a nova treinadora da Sereias da Vila

 

 

Clique para comentar

Deixe uma resposta

Últimas Notícias

Topo